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Mágoa
Ninguém pode magoar você sem o seu consentimento.
Eleanor Roosevelt
A mágoa é um movimento desagradável da alma, ocasionado pela atenção que ela dá à ausência de um bem do qual ela poderia ter gozado por mais tempo, ou à presença de um mal do qual ela deseja a ausência.[1]
O sentimento de mágoa pode ser tão devastador, a ponto de causar a loucura e até mesmo a morte.
No entanto, é um sentimento que brota muitas vezes sem controle e vai tomando conta da alma de quem o alimenta.
Para evita-la ou livrar-se dela quando se instala em nosso coração, é preciso lançar mão das ferramentas da razão e do bom senso.
Dois agentes podem promover a mágoa: aquele mesmo que a alimenta, ou uma causa exterior.
No primeiro caso a pessoa guarda mágoa de si mesma, e a culpa pode lança-la num profundo sofrimento moral. O que fazer, então?
O sofrimento por si só nada repara. Então, persistir no sofrimento seria perda de tempo. Aliás, poderia vir a ser uma espécie de autopunição. E por que? Talvez por não admitir que tenha falhado. O orgulho gosta de nos fazer supor que somos infalíveis. Mas a infalibilidade não é atributo de seres imperfeitos, condição de todos nós, os humanos.
No segundo caso, isto é, quando a causa é exterior e independente, sobre ela não temos nenhum controle e de nada vale ficar remoendo.
O que diz a razão nos dois casos: perdoe e perdoe-se.
O passado, não mais existindo, não pode ser alterado e, portanto, não deve nos afligir.
O presente é o único tempo que temos em nosso poder. E podemos nos tornar melhores nesse tempo em que estamos, que é hoje. O futuro depende do tempo presente. Quando tomamos a atitude de eliminar da nossa alma o sentimento de mágoa, nos sentiremos, ainda hoje, mais livres, e amanhã estaremos mais felizes.
O psiquiatra norte-americano Gerald G. Jampolski[2] tem uma frase notável sobre o perdão: Perdoar é renunciar a todas as esperanças de um passado melhor.
Nada mais lógico, mais sensato e verdadeiro. Ou será que alguém já conseguiu voltar o tempo e apagar um acontecimento indesejado, ou realizar algo que tenha sido negligenciado?
Hoje, sim, é possível fazer ou deixar de fazer. Perdoar ou guardar mágoa. Amanhã teremos o efeito da nossa decisão de agora.
A mágoa é semente de loucura, de infelicidade. É causa de tristeza tanto para aquele que a alimenta quanto para aqueles que o rodeiam. Por isso esse sentimento nunca trouxe e jamais trará felicidade a quem quer que seja.
Não há filosofia, dizia Epicteto, em acusar os outros por um mal que fizemos; não acusar senão a si mesmo, é dar um primeiro passo na filosofia; não acusar nem a si mesmo nem os outros, é ter dado o último passo da sabedoria.
A propósito da mágoa, um amigo narrou a seguinte parábola:
Em um vilarejo, um velho sábio falava a seus discípulos a respeito do perdão das ofensas. Dizia ele àquele público atento que o sentimento de mágoa é um devorador de almas, e mantê-lo dentro de si seria assinar uma sentença de morte, mas uma morte lenta e muito dolorida.
Um de seus discípulos então interroga o mestre dizendo: Mestre, se esse sentimento é fatal e devora as almas, como posso eu estar aqui ouvindo seus ensinamentos, se carrego comigo, dentro de mim esse sentimento há tanto tempo? Pareço vivo, e assim estou!
O mestre, conhecendo o íntimo de seu discípulo e também a gravidade da questão lhe responde com doçura: Se alimentas essa fera e a vês crescer em teu seio, sabes que logo ela estará maior que tu. Primeiro ela irá minar tuas forças, para deixar-te impotente diante dela, mas enquanto cresce disfarça-se em amor próprio e te adula, por isso não te dás conta de que te rouba a vitalidade; mas te digo: livra-te dela enquanto podes, e verás que um novo ser viverá, uma luz brilhará em teus olhos e serás mais feliz.
Equipe Filosofia no ar / tc 30/11/2012.
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